A tirzepatida (Mounjaro) é um
fármaco utilizado para o tratamento da obesidade e diabetes tipo 2. Ele ativa
receptores das células que atuam em dois hormônios ativos no sistema digestivo:
GIP e GLP-1. O primeiro envolve a liberação de insulina, hormônio produzido
pelo pâncreas e que tira açúcar do sangue para colocar dentro das células. O Mounjaro
facilita o controle da glicemia. O GIP e GLP-1 também estão em células no cérebro
responsáveis no controle do apetite, regulando a ingestão de alimentos. O
Ozempic (semaglutida) só atua no GLP-1. Pacientes que usaram a tirzepatida
perderam em média 12,4 quilos, que é o dobro do observado com a semaglutida.
Um estudo publicado em 24 de novembro
de 2025 avaliou 308 pessoas que fizeram uso do medicamento. Observou-se redução
de peso e melhora dos parâmetros cardiometabólicos após 36 semanas (9 meses) de
tratamento. Apresentaram redução de peso de 10% ou mais na semana 36. Após 36
semanas, os participantes foram randomizados para continuar com o remédio ou
para passar para placebo durante 52 semanas (semana 36 a 88).
Ao longo do estudo, o tratamento
foi um complemento de uma dieta hipocalórica (déficit saudável de 500 kcal por
dia) e aumento da atividade física (pelo menos 150 minutos por semana, o que
daria 30 minutos de segunda a sexta).
Dessas 308 pessoas, 54 tiveram
reganho de peso de menos de 25%, 77 recuperaram entre 25 a 50%, 103 pessoas
tiveram reganho entre 50 a 75% e 74 pessoas reganharam mais de 75%.
O que apenas esses 4% devem fazer
é um comportamento adequado à manutenção do peso, com hábitos saudáveis,
alimentação correta e prática regular de exercícios físicos. A transformação
não veio só pelo medicamento, mas pela transformação da mentalidade e hábitos.
Usar o medicamento ajuda a dar um
empurrão, pois as pessoas desistem quando treinam, fazem dieta, e não veem
resultados a curto e médio prazo. Então quando a pessoa percebe uma redução de
peso após o uso do remédio, gera um fator motivacional para continuar. O que
recomendo? Use apenas sob orientação médica e consulte um psicólogo, pois ele é
um especialista em comportamento, e isso será fundamental para a verdadeira e
permanente mudança.
O que me preocupa é essa cultura
atual de que tudo tem que ser “fast”: a comida, o estudo, o trabalho, as
visitas, as conversas e os resultados. Essas “canetas mágicas” de semaglutida (Ozempic,
Wegovy, Poviztra, Rybelsus – este em comprimido), liraglutida (Saxenda,
Victoza, Lirux) e tirzepatida (Mounjaro, Zepbound), atuam no hipotálamo para
controlar a fome e saciedade, retardam o esvaziamento do estômago, promovendo
saciedade prolongada. Mas é um tratamento que só funciona quando você usa
(vejam que 96% reganham quando param de usar), portanto não devem ser vistas
como seu principal investimento financeiro e de esforço.
Efeitos colaterais do Mounjaro: vômito,
náuseas, diarréia, constipação (intestino preso), sensação de estufamento na barriga,
dispepsia (desconforto abdominal), refluxo, eructação (arroto), reações no
local da aplicação (vermelhidão ou coceira), falta de vontade de viver (porque
a pessoa se acostumou tanto a ter prazer no comer que, quando isso lhe é
arrancado, ela não sabe obter prazer por outras formas), crises de dissociação
(em que não vê mais o próprio corpo, porque estava acostumada a outra imagem
diante do espelho).
Em estudo publicado na revista Cell
Metabolism, o Ozempic promove cerca de 13,9% de perda de massa muscular
durante seu uso. Ao perder músculo, sua taxa metabólica também diminui e por
isso perder peso também fica mais difícil. Nisso, o Mounjaro é mais interessante,
pois não tira a vontade das pessoas de comer proteína, afinal proteína é mais
difícil de comer, enquanto carboidratos é mais fácil de comer, mesmo estando de
“barriga cheia”.
Existe um processo, um preço a
pagar, um investimento de tempo. Não há problema difícil com soluções fáceis. A
gordura é um sintoma, mas qual a causa? De acordo com uma pesquisa do Instituto
Ipec, encomendada pela Associação Brasileira da Obesidade e Síndrome Metabólica
(2023), 64% dos brasileiros afirmam comer em excesso para lidar com ansiedade e
estresse, 60% admitiram recorrer a doces, pizzas e lanches para aliviar o mau
humor. A pesquisa aponta também que a incapacidade de controlar os desejos
alimentares é a segunda causa mais mencionada para obesidade, com 40% dos
participantes citando-a, ficando atrás do sedentarismo (58%). Os fatores
genéticos ocupam o terceiro lugar (37%). Segundo a OMS, cerca de 4,7% da população
brasileira sofre de transtorno de compulsão alimentar.
A palavra dieta vem do grego
antigo díaita, que significa "modo de vida" e refere-se a um
conjunto de hábitos para viver bem, com disciplina e equilíbrio. Com o
tempo, o termo se popularizou para designar o que comemos, mas sua raiz é muito
mais ampla, sobre como se vive. Profissionais de saúde preferem o termo
"plano alimentar" para desassociar dieta da ideia de privação,
resgatando seu sentido original de um estilo de vida saudável e
individualizado.
Não digo que eles não devem ser
usados, afinal temos uma epidemia de obesidade e eles podem ser um caminho para
dar conta deste problema mundial. Médicos que dizem que “você tem que tomar
Mounjaro a vida toda” ela está dizendo que você não está mudando seu ambiente. Mounjaro
é uma muleta para te ajudar a caminhar. Se não mudar nada, ao tirar essa
muleta, vai cair. Já tem estudo mostrando a ação do Mounjaro nos receptores
ligados ao vício e ansiedade. Então os médicos estão receitando para tratar
compulsão de doce, álcool, cigarro, compras, entre outras.
Agora vamos lá para provocação.
No baixo, 4 canetinhas de Mounjaro custa R$ 1400,00. Como é uma dose semanal,
esse é o custo mensal. Para algo que se você parar, você tem grande chance de voltar
a ganhar o peso perdido. Mas quanto é para caminhar? Quanto é para fazer uma
calistenia básica em casa? Quanto é uma mensalidade de musculação ou de algum
esporte? Quanto é um tratamento com psicólogo, nutricionista e personal? Se pesquisar
bem, não chega a isso por mês. Ou se chega (ou se supera um pouco), vale a pena,
pois você estará investindo em profissionais que não necessariamente estarão
com você para sempre. A psicoterapia visa gerar autoeficácia no paciente, portanto
não será um valor que pagará para sempre. E estará investindo no comportamento
que, esse sim, irá mudar sua saúde para sempre.
Mas a questão maior é: mesmo
usando Mounjaro, você também precisará do psicólogo e certamente do
nutricionista para fazer a mudança real e duradoura que resultará no
emagrecimento e sua manutenção. Talvez o que deva refletir é: existe mesmo uma
necessidade urgente de usar esse medicamento? E aí é o médico que vai
determinar se precisará passar por esse tratamento. Ou é sua ansiedade, sua falta
de disciplina ou sua compulsão não tratada que estão lhe empurrando a apelar
para o remédio? Reforço que o medicamento é seguro (embora não livre de risco) e
útil no tratamento da obesidade e outras compulsões, contanto que usado
corretamente e com todo o acompanhamento multidisciplinar.
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