96% DE QUEM USA MOUNJARO APRESENTA ESSE PROBLEMA


A tirzepatida (Mounjaro) é um fármaco utilizado para o tratamento da obesidade e diabetes tipo 2. Ele ativa receptores das células que atuam em dois hormônios ativos no sistema digestivo: GIP e GLP-1. O primeiro envolve a liberação de insulina, hormônio produzido pelo pâncreas e que tira açúcar do sangue para colocar dentro das células. O Mounjaro facilita o controle da glicemia. O GIP e GLP-1 também estão em células no cérebro responsáveis no controle do apetite, regulando a ingestão de alimentos. O Ozempic (semaglutida) só atua no GLP-1. Pacientes que usaram a tirzepatida perderam em média 12,4 quilos, que é o dobro do observado com a semaglutida.

 

 

Um estudo publicado em 24 de novembro de 2025 avaliou 308 pessoas que fizeram uso do medicamento. Observou-se redução de peso e melhora dos parâmetros cardiometabólicos após 36 semanas (9 meses) de tratamento. Apresentaram redução de peso de 10% ou mais na semana 36. Após 36 semanas, os participantes foram randomizados para continuar com o remédio ou para passar para placebo durante 52 semanas (semana 36 a 88).

Ao longo do estudo, o tratamento foi um complemento de uma dieta hipocalórica (déficit saudável de 500 kcal por dia) e aumento da atividade física (pelo menos 150 minutos por semana, o que daria 30 minutos de segunda a sexta).

Dessas 308 pessoas, 54 tiveram reganho de peso de menos de 25%, 77 recuperaram entre 25 a 50%, 103 pessoas tiveram reganho entre 50 a 75% e 74 pessoas reganharam mais de 75%.

O que apenas esses 4% devem fazer é um comportamento adequado à manutenção do peso, com hábitos saudáveis, alimentação correta e prática regular de exercícios físicos. A transformação não veio só pelo medicamento, mas pela transformação da mentalidade e hábitos.

Usar o medicamento ajuda a dar um empurrão, pois as pessoas desistem quando treinam, fazem dieta, e não veem resultados a curto e médio prazo. Então quando a pessoa percebe uma redução de peso após o uso do remédio, gera um fator motivacional para continuar. O que recomendo? Use apenas sob orientação médica e consulte um psicólogo, pois ele é um especialista em comportamento, e isso será fundamental para a verdadeira e permanente mudança.

O que me preocupa é essa cultura atual de que tudo tem que ser “fast”: a comida, o estudo, o trabalho, as visitas, as conversas e os resultados. Essas “canetas mágicas” de semaglutida (Ozempic, Wegovy, Poviztra, Rybelsus – este em comprimido), liraglutida (Saxenda, Victoza, Lirux) e tirzepatida (Mounjaro, Zepbound), atuam no hipotálamo para controlar a fome e saciedade, retardam o esvaziamento do estômago, promovendo saciedade prolongada. Mas é um tratamento que só funciona quando você usa (vejam que 96% reganham quando param de usar), portanto não devem ser vistas como seu principal investimento financeiro e de esforço.

Efeitos colaterais do Mounjaro: vômito, náuseas, diarréia, constipação (intestino preso), sensação de estufamento na barriga, dispepsia (desconforto abdominal), refluxo, eructação (arroto), reações no local da aplicação (vermelhidão ou coceira), falta de vontade de viver (porque a pessoa se acostumou tanto a ter prazer no comer que, quando isso lhe é arrancado, ela não sabe obter prazer por outras formas), crises de dissociação (em que não vê mais o próprio corpo, porque estava acostumada a outra imagem diante do espelho).

Em estudo publicado na revista Cell Metabolism, o Ozempic promove cerca de 13,9% de perda de massa muscular durante seu uso. Ao perder músculo, sua taxa metabólica também diminui e por isso perder peso também fica mais difícil. Nisso, o Mounjaro é mais interessante, pois não tira a vontade das pessoas de comer proteína, afinal proteína é mais difícil de comer, enquanto carboidratos é mais fácil de comer, mesmo estando de “barriga cheia”.

Existe um processo, um preço a pagar, um investimento de tempo. Não há problema difícil com soluções fáceis. A gordura é um sintoma, mas qual a causa? De acordo com uma pesquisa do Instituto Ipec, encomendada pela Associação Brasileira da Obesidade e Síndrome Metabólica (2023), 64% dos brasileiros afirmam comer em excesso para lidar com ansiedade e estresse, 60% admitiram recorrer a doces, pizzas e lanches para aliviar o mau humor. A pesquisa aponta também que a incapacidade de controlar os desejos alimentares é a segunda causa mais mencionada para obesidade, com 40% dos participantes citando-a, ficando atrás do sedentarismo (58%). Os fatores genéticos ocupam o terceiro lugar (37%). Segundo a OMS, cerca de 4,7% da população brasileira sofre de transtorno de compulsão alimentar.

A palavra dieta vem do grego antigo díaita, que significa "modo de vida" e refere-se a um conjunto de hábitos para viver bem, com disciplina e equilíbrio. Com o tempo, o termo se popularizou para designar o que comemos, mas sua raiz é muito mais ampla, sobre como se vive. Profissionais de saúde preferem o termo "plano alimentar" para desassociar dieta da ideia de privação, resgatando seu sentido original de um estilo de vida saudável e individualizado.

Não digo que eles não devem ser usados, afinal temos uma epidemia de obesidade e eles podem ser um caminho para dar conta deste problema mundial. Médicos que dizem que “você tem que tomar Mounjaro a vida toda” ela está dizendo que você não está mudando seu ambiente. Mounjaro é uma muleta para te ajudar a caminhar. Se não mudar nada, ao tirar essa muleta, vai cair. Já tem estudo mostrando a ação do Mounjaro nos receptores ligados ao vício e ansiedade. Então os médicos estão receitando para tratar compulsão de doce, álcool, cigarro, compras, entre outras.

Agora vamos lá para provocação. No baixo, 4 canetinhas de Mounjaro custa R$ 1400,00. Como é uma dose semanal, esse é o custo mensal. Para algo que se você parar, você tem grande chance de voltar a ganhar o peso perdido. Mas quanto é para caminhar? Quanto é para fazer uma calistenia básica em casa? Quanto é uma mensalidade de musculação ou de algum esporte? Quanto é um tratamento com psicólogo, nutricionista e personal? Se pesquisar bem, não chega a isso por mês. Ou se chega (ou se supera um pouco), vale a pena, pois você estará investindo em profissionais que não necessariamente estarão com você para sempre. A psicoterapia visa gerar autoeficácia no paciente, portanto não será um valor que pagará para sempre. E estará investindo no comportamento que, esse sim, irá mudar sua saúde para sempre.

Mas a questão maior é: mesmo usando Mounjaro, você também precisará do psicólogo e certamente do nutricionista para fazer a mudança real e duradoura que resultará no emagrecimento e sua manutenção. Talvez o que deva refletir é: existe mesmo uma necessidade urgente de usar esse medicamento? E aí é o médico que vai determinar se precisará passar por esse tratamento. Ou é sua ansiedade, sua falta de disciplina ou sua compulsão não tratada que estão lhe empurrando a apelar para o remédio? Reforço que o medicamento é seguro (embora não livre de risco) e útil no tratamento da obesidade e outras compulsões, contanto que usado corretamente e com todo o acompanhamento multidisciplinar.


 José Marcelo Barreto de Oliveira - Psicólogo





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