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Vivemos uma sociedade do cansaço. Todos estão cansados, sem paciência, ocupados, cheias de "não me toque", intolerantes ao desconforto. Para um mundo assim, ser criança está sendo cada vez mais difícil. Muitos irão querer assumir a "pedagogia da solução dolorosamente rápida", pois era assim nos tempos das gerações anteriores e "deu certo" (só porque sobreviveram).
Há pais e profissionais que não querem crianças, querem seres que não sejam inquietas, barulhentas, chorosas, alegras, emotivas ou enérgicas. Querem que sejam maduras antes do tempo. Querem pequenos andróides, cuja resposta automática viria com apenas um olhar dos adultos.
O normal é que a criança seja quem ela ela, que extravase, se aventure, teste as coisas e até mesmo desafie quando suas vontades não são atendidas. Elas estão aprendendo que não são o centro do universo (não mais, pelo menos).
Sim, no começo, quando recém-nascido, todos lhe cercavam, riam para ele, lhe pegavam, faziam brincadeiras, queriam lhe agradar de todo jeito, faziam de tudo para que seu choro cessasse o mais rápido possível.
Pouco a pouco, a frustração de não ser mais assim vai sendo solidificada. É um processo que na verdade muitos pais não estão dispostos a passar. Querem que seja como num "clic". E por falar em clic, não é à toa que se rendem ao uso das telas pelos filhos. Assim, eles se acalmam e não infernizam a todos no ambiente. Evitam o tédio, o horrível tédio, que parece ser o fim do mundo, mas que na verdade é o insumo da imaginação.
E se a criança dá mais trabalho que o habitual? "Então vamos levá-la ao médico pois o problema está nela". Quando, primeiramente, deveriam ser os pais que deveriam correr para um psicólogo infantil para tirarem uma pequena dúvida: "será que estamos falhando em alguma coisa?".
Pois é. É verdade que existem casos em que crianças precisam ser medicadas. Mas mesmo em casos assim, são os pais que primeiro deveriam rever sua forma de educar, de curar suas próprias feridas emocionais, de aprender quais as necessidades emocionais infanto-juvenis e qual o estilo de educação que é mais adequada na criação daquilo que dizem que é o maior tesouro deles: seus filhos.
Para você ter uma ideia, apenas de 3 a 7 crianças entre 100 apresentam TDAH, mas se deixar a má diagnosticação correr solta, capaz de dar 110%.
Então, antes de agir com rispidez "é isso mesmo, criança birrenta, tem que aprender a frustrar mesmo, que enjoo". Vamos pingar amor nas falas. Vamos acolher, com palavras doces, mas firmes, direcionando comportamentos mais assertivos, ajudando a criança a amadurecer.
"Ah, mas no meu tempo...". Calma, eu sei que você sobreviveu às palmadas (era pra morrer?). Cautela! Será que você se tornou "o ser inabalável a todos" ou "o ser sem empatia alguma por ninguém"?
Vimos num avião pessoas incomodadas com o choro de uma criança de 4 anos. Uma mulher achou que era falta de empatia uma pessoa não ceder ao desejo da criança (ou será que só não suportou o barulho? Ou aqui mexeu com sua criança ferida? Quem sabe?) e começou a ofendê-la e querer lhe tirar seu direito de permanecer onde estava. O fato é que um ato tão simples repercutiu absurdamente. Um simples "não", e sem discussão, tornou-se o assunto da semana.
Não sei o que motivou essa viralização e essa glamorização por alguém que não fez nada demais (sério, ela não fez nada, ué?). Mas não importa, o que quero trazer como alerta é que esse tipo de vídeo pode reforçar um estigmatização da mãe e da criança, como se esta fosse mal-criada e a outra uma péssima mãe.
Pais e mães, não tenham vergonha se seu filho fizer um show em público. Dane-se quem olhar de cara feia querendo uma solução imediata. O desconforto dos adultos é por causa das suas próprias crianças interiores não curadas. À lembrança de que "quando fiz isso, levei uma surra". "Se meu filho fizesse isso, a chinelada comia solta". Foque, pai e mãe, a acolher seu filho. A educá-lo do jeito mais assertivo possível. Quando você está seguro(a) da educação que está dando ao seu pequeno, o mundo pode achar o que quiser de você!
- José Marcelo Barreto de Oliveira - Psicólogo.
- José Marcelo Barreto de Oliveira - PsicólogoVivemos uma sociedade do cansaço. Todos estão cansados, sem paciência, ocupados, cheias de "não me toque", intolerantes ao desconforto. Para um mundo assim, ser criança está sendo cada vez mais difícil. Muitos irão querer assumir a "pedagogia da solução dolorosamente rápida", pois era assim nos tempos das gerações anteriores e "deu certo" (só porque sobreviveram).
Há pais e profissionais que não querem crianças, querem seres que não sejam inquietas, barulhentas, chorosas, alegras, emotivas ou enérgicas. Querem que sejam maduras antes do tempo. Querem pequenos andróides, cuja resposta automática viria com apenas um olhar dos adultos.
O normal é que a criança seja quem ela ela, que extravase, se aventure, teste as coisas e até mesmo desafie quando suas vontades não são atendidas. Elas estão aprendendo que não são o centro do universo (não mais, pelo menos).
Sim, no começo, quando recém-nascido, todos lhe cercavam, riam para ele, lhe pegavam, faziam brincadeiras, queriam lhe agradar de todo jeito, faziam de tudo para que seu choro cessasse o mais rápido possível.
Pouco a pouco, a frustração de não ser mais assim vai sendo solidificada. É um processo que na verdade muitos pais não estão dispostos a passar. Querem que seja como num "clic". E por falar em clic, não é à toa que se rendem ao uso das telas pelos filhos. Assim, eles se acalmam e não infernizam a todos no ambiente. Evitam o tédio, o horrível tédio, que parece ser o fim do mundo, mas que na verdade é o insumo da imaginação.
E se a criança dá mais trabalho que o habitual? "Então vamos levá-la ao médico pois o problema está nela". Quando, primeiramente, deveriam ser os pais que deveriam correr para um psicólogo infantil para tirarem uma pequena dúvida: "será que estamos falhando em alguma coisa?".
Pois é. É verdade que existem casos em que crianças precisam ser medicadas. Mas mesmo em casos assim, são os pais que primeiro deveriam rever sua forma de educar, de curar suas próprias feridas emocionais, de aprender quais as necessidades emocionais infanto-juvenis e qual o estilo de educação que é mais adequada na criação daquilo que dizem que é o maior tesouro deles: seus filhos.
Para você ter uma ideia, apenas de 3 a 7 crianças entre 100 apresentam TDAH, mas se deixar a má diagnosticação correr solta, capaz de dar 110%.
Então, antes de agir com rispidez "é isso mesmo, criança birrenta, tem que aprender a frustrar mesmo, que enjoo". Vamos pingar amor nas falas. Vamos acolher, com palavras doces, mas firmes, direcionando comportamentos mais assertivos, ajudando a criança a amadurecer.
"Ah, mas no meu tempo...". Calma, eu sei que você sobreviveu às palmadas (era pra morrer?). Cautela! Será que você se tornou "o ser inabalável a todos" ou "o ser sem empatia alguma por ninguém"?
- José Marcelo Barreto de Oliveira - Psicólogo
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